Diário de um escafandrista bêbado que vai parir três abacaxis na pandemia do corona / Journal d’un scaphandrier ivre qui va accoucher de trois ananas durant la pandémie de Covid

por Custódio Rosa

Cirurgia, religião, burrice e pequenos momentos de graça … O diário de um homen que teve a boa ideia de ter apendicite durante a epidemia de coronavírus, no Brasil.

. Pílulas do hospital – 1

A enfermeira entra para coletar sangue.
– Sou do laboratório.
Você pensa: laboratório, lugar técnico, de análise e ciência.
– Vc não liga a tv, né? Faz bem. Só tem coisa que nos afasta da fé. Ainda mais agora, essa coisa que inventaram só pra assustar.

Em 2 minutos, colheu sangue, falou o nome de Jesus 11 vezes e voltou.

Pro laboratório.

. Pílulas do hospital – 2

Paciente estava dopado e pulou esta

. Pílulas do hospital – 3

Na emergência, um médico e 3 ou 4 enfermeiras. Falam do auxílio de R$ 600 durante a quarentena. O médico espantado:

– Só quem ganha até 28 mil por ano. Gente, quem sobrevive com 28 mil por ano?

Silêncio das enfermeiras.

. Pílulas do hospital – 4

Ainda o médico e as enfermeiras. Confinamento. Uma delas:

– Eu já não sei o que é pior. Ficar em casa, como? Meu marido diz que o mundo precisa seguir, quem sobrar, sobrou. Ele é autônomo.
Espero o médico. Ele diz:

– Não sei se ele está errado.

Um médico.

. Pílulas do hospital – 5

Em uma volta para casa, motorista do uber:
– Ontem morreram 3 velhinhos que conheço. Nenhum foi de corona. Certeza que vão colocar nas estatísticas.
Fico em silêncio. Depois respondo.
– Tenho amigos na Itália, França. Acredite, é sério e vai piorar.

Ele me olha pelo retrovisor. Seu olhar me diz nitidamente: « você é trouxa ».

. Pílulas do hospital – 6

Outro uber:
– Trabalhava com Próteses e equipamentos cirúrgicos. O médico fica com comissão de cada peça, tudo superfaturado. Tinha um que tirava só do meu laboratório 500 mil por mês. Ninguém olhava no olho dele pq se ele não gostar vc mandava demitir.

. Pílulas do hospital – 7

No dia D da invasão da Normandia muitos morriam para livrar o mundo, enquanto meninos jogavam bola em um terreno baldio no Brasil.

Saí ha pouco de um procedimento cirúrgico. Falo pra enfermeira, sergipana séria mas simpática, que me leva pro quarto:
– Vocês vão ter no mínimo 2 meses duros pela frente.
– Será tudo isso?
Acho baixa a previsão mas não falei nada. Ela completa:
– Isso quem tiver vivo.
– Tem amigas contaminadas?
– Várias. Algumas na uti, outras deram positivo e estão em quarentena. Muitos médicos também. O hospital está contratando em esquema de urgência.
Penso nas tantas pessoas ainda alienadas que não entenderam o que está acontecendo.

No dia D da invasão da Normandia muitos morriam para livrar o mundo, enquanto meninos jogavam bola em um terreno baldio no Brasil.

Nós não temos o direito de ser esses meninos.

. Pílulas do hospital – 8

No 1° dia vc vai pro quarto, eles permitem você usar a camiseta com réplica do Guernica e bermuda, afinal elegância conta.

No 2°, obrigam o avental aberto atrás, você faz dele um quimono charmoso.

No 3° dia todos estão vendo sua bunda e você não tá nem aí.

. Pílulas do hospital – 9

O confinamento e a emergência de apêndice me pegaram talvez na melhor fase física da vida.

15% de gordura corporal, o tão socialmente idolatrado « tanquinho » ali, querendo ficar visível, mesmo não sendo um objetivo ou meta. Afinal, não troco meu chocolate depois do almoço e uma cerveja ou vinho pelo menos 2 vezes por mês .

Mas não sendo alto nem exatamente galã, sem dinheiro para ferraris ou restaurantes, sem ter profissão aventureira como surfista ou páraquedista, e sabendo que inteligência não é exatamente artigo de valor hoje, um homem de 52 precisa de algum atrativo sexy para seguir cotado no mercado.

A sensação de olhar o espelho e ver aquela possibilidade de abdômen gomado, mesmo não querendo ir até ele, é de propriedade e posse.
« Se quiser, duas semanas eu vou lá e pego. Meu abdômen « .

Então aparecem o coronavírus, confinamento, e depois a apendicite.

Em uma semana você sobe 500 degraus de escada como aquecimento para a academia, no outro anda pelo mundo como um escafandrista bêbado que vai parir três abacaxis.

A barriga enorme, redonda, disforme, com várias marcas de incisão que deixarão cicatrizes.

Meu abdômen…
Nada é nosso. Nem a Ferrari nem o tanquinho.

Somos só um monte de moléculas emprestadas.

. Pílulas do hospital – 10

Quando estava indo de uber pela 2a vez, já com apendicite aguda, deitei no banco de trás do carro olhando pra cima.
Uma tarde gloriosa, como tem sido todos os dias desde a quarentena. Lá em cima do céu sem nuvens, um urubu minúsculo circulava.
Claro que pensei num cartum. Falei pra ele:
Tô vivo ainda rapaz, urubu desastrado vira carniça.

Na zona sul de São Paulo ha 3 semanas faz dias lindos. Maritacas de manhã cruzam o bairro.
A represa Guarapiranga deve estar pletorando com as garças, patos do mato e galinhas da Angola. Minhas plantas no quintal crescem, as samambaias parecem marombeiras de academia.

Aqui no Jabaquara onde fica o hospital, barulho de avião acontece 4 ou 5 por dia. A média era de um a cada 2 minutos.
Escuto pássaros, que antes fugiam do bairro por causa das turbinas, circulando na região.

A natureza segue exuberante.
Ar mais limpo, céu com mais estrelas, animais mais tranquilos, é quase um desaforo de desprezo à espécie humana.
A natureza não depende de nós. A natureza não precisa de nós. Eu diria até que já estamos fazendo hora extra.
Ela mandou um recado óbvio:

– Vocês são apenas uma espécie como outra qualquer. Como milhares que já existiram e se foram no globo. Vocês são arrogantes, ignorantes, destrutivos e finitos. Eu acabo com vocês com um estalar de vírus. Entendam seu lugar, respeitem sua casa, revejam seus conceitos.
É certo que não vamos aprender.

Os urubus somos nós.
E urubu desastrado vira carniça.

. Pílulas do hospital – 11

Trump e EUA limparam o mercado de equipamentos de combate ao coronavirus no mundo. Foram à China, deram lance maior, limparam o estoque (incluindo a encomenda já direcionada ao Brasil que vai ficar sem nada).
Mas pagou a mais também pra tirar de outros países, incluindo a Alemanha.
Tirou o estoque do mundo.
Isso foi o governo americano.
Para chegar e distribuir para hospitais, certo?
Não.
Há 6 ou 7 empresas gigantes de fornecimento médico nos EUA. Elas têm caminhões e sistema de distribuição.
O governo vai passar todo esse material confiscado do mundo (a Alemanha chamou de pirataria moderna) para essas empresas que vão VENDER para os hospitais.

Vou repetir: VENDER.
Em sistema de leilão tipo eBay.
Hospital que dá mais leva.
E depois cobra dos pacientes.

Hospital que não têm grana não têm máscara .
Paciente que não tem grana não respira.

Esse é o capitalismo puro, sem censura nem hipocrisia.
O estado injeta milhões e dá de mão beijada um mercado monopolizado pros parceiros privados.
Tira do mundo todo e faz de um bem vital um lucro astronômico pros gigantes do setor sem nada em troca.

Na pílula 10 eu disse que não aprenderíamos.
Não precisou 3 minutos.

Abaixo link com a coletiva do governo americano explicando naturalmente como se nao fosse nada :

. Pílulas do hospital – 12

O andar em que estou está com todos os quartos e leitos ocupados.
É um setor livre de Covid.
É livre para quem quer caminhar pelo corredor, mas por ter duas internações em uma semana, tenho ordens de ficar no quarto. Estou em isolamento dentro do isolamento. Minha cara.
Só pude sair em macas ou cadeiras, para exames.
Já conheço um pouco a estrutura do hospital, e percebo que a cada dia mudam o itinerário.

Por causa do Covid, setores vão sendo restritos, elevadores e corredores tomados para públicos específicos. Caminhos internos mudam.
Meu quarto ganhou um monitor antes de eu chegar. Já está sendo preparado pra virar UTI.

Hoje de manhã a médica, no máximo 27 anos, veio me visitar. Seus colegas estão sendo recrutados de outros setores.
Perguntei pela situação geral:
– Esse setor no segundo andar agora é o único do hospital não utilizado pro Covid.
– Então… somos a aldeia de Asterix.

Acho que ela não entendeu.
Esses cartunistas são loucos.

. Pílulas do hospital – 13

Parte do dia passo conectado a uma haste- suporte com rodinhas. Bolsas de soro e medicamentos pingando lentamente.
Como sou um equipamento de certa idade, é aceitável ainda ser monitorado de forma analógica por cabos e fios. Um dia haverá soro fisiológico Wi-Fi.

Preciso caminhar pelo quarto, faz parte do processo de recuperação. Carregar minha parceira de rodinhas pelo quarto as vezes é necessário.
Idas e vindas com rodopios, como uma dança.
E como toda dança, há aquelas parceiras que ajudam, e as que atrapalham.
Dei azar, peguei uma roda-presa, não vai bem na reta, nem na curva. Não esperava um tango sensual, mas também não precisava ser um arrasto-com-obstáculos.

A alternativa é abstrair .
Celular, leitura, pensar em coisas enquanto empurro automaticamente minha parceira travadona.

Hoje uma enfermeira entrou no quarto.
Me viu indo ao banheiro com a nova namorada.

– Onde vai, seu Custódio?
– No banheiro.
– E pra que levar companhia?

Aí percebi que estava parte da manhã empurrando o suporte, mas sem nenhum medicamento nele. Estava livre, desconectado.
– Esqueci que estava solteiro.
Ela cai na gargalhada e mostra os saquinhos da bandeja.
– Agora não está mais.

. Pílulas do hospital -14

Toda vez que me vão medir meus batimentos cardíacos eu aviso: meu batimento é baixo. Em repouso e deitado chega a 52, 48 por minuto. É importante para terem como referência. O nome técnico disso acho que é « bradycardia ».

Toda vez que falo, as enfermeiras perguntam « O senhor foi atleta? « .

Algumas vezes eu digo que sou só pão-duro, estou economizando batimento pra sobrar no final. Internado, isso acontece ao menos 3 vezes por dia. Vem sempre uma enfermeira diferente, de acordo com o plantão.

Hoje veio uma que eu ainda não conhecia. Como quase todas, evangélica. Avisei. Ela mediu e fez a pergunta:

– É. 53 batimentos. O senhor foi atleta?

– Sim.

– Que bênção. Igual ao Bolsonaro.

-…

– Seu Custódio, por que subiu pra 96?

. Pílulas do hospital – 15

Hoje é meu último dia de internação.

Decidiram que no final do dia posso ir pra casa.

Aparentemente já tenho condições de fazer água sozinho e dar almoço pras plantas.

Ou algo assim.

De manhã achei o corredor um tanto barulhento. Conversas e vozes.

Perguntei para a enfermeira o porquê:

– Seus amigos querem receber alta.

O fato é que praticamente dois corredores do meu andar ainda estão livres do covid. O resto do hospital todo está se preparando para receber infectados em todos os setores. Aos poucos vão liberando pacientes pra casa, e aumentando o front.

Acontece que muitos não podem sair. Têm exames, cirurgias, ou estão em recuperação.

A notícia de que estamos cercados causou certo pânico.

Muitos pacientes têm se recusado a descer para exames fundamentais, com medo que o ar, paredes pessoas estejam contaminados.

Como disse dona Joélia, maranhense que faz limpeza todas as manhãs, « esses gases que sobem do satanás ».

Dona Joélia é engraçada, sempre em dupla com uma parceira tímida que não entra nos quartos. Elas conversam, discutem, dão risadas. Parece uma dupla de comédia americana, aqueles que polícia pega duas pessoas sem treinamento para serem informantes infiltrados. Outro dia ela entrou meio que girando o corpo quando passou pela porta. Olhou pra mim e disse:

– Quase caí. A luva prendeu na porta.

Uma filha apenas, que faz radiologia e teve que suspender o estágio por a causa dos « gases ».

– A senhora tem quantos anos?

– 50.

– Estou sem óculos, dona Joélia. Não posso dizer se aparenta menos.

– Sem óculos, é? Tu tem é olho, que eu sei.

De todos profissionais, talvez sejam os mais desprotegidos, que saem dali a noite e vão de ônibus lotados para um bairro distante.

– Vou pra casa hoje, dona Joélia. Acha que minhas plantas estão vivas?

– Com a graça do Senhor, elas não sofrem desses gases não.

Então é isso.

Depois de 5 dias sem cozinhar nem tomar meu próprio remédio, volto pra autonomia de adulto no mundo real.

Acho que ja sei fazer água sozinho e dar almoço pras plantas.

Ou algo assim.

Créditos do banner : areta ekarafi on Visual Hunt / CC BY-NC-ND


par Custódio Rosa

Chirurgie, religion, bêtise et petits instants de grâce… Le journal d’un type qui a eu la bonne idée d’avoir une appendicite pendant l’épidémie de coronavirus, au Brésil.

. Pilules d’hôpital – 1

L’infirmière vient me faire une prise de sang.

– Je suis du labo.

Vous pensez : laboratoire, lieu technique, d’analyse et de science.

– Vous n’allumez pas le téléviseur, non ? Vous faites bien. Ils ne passent que des choses qui tentent d’ébranler notre foi. Et plus encore maintenant, avec ce machin qu’ils ont inventé juste pour nous faire peur.

En deux minutes, elle m’a fait une prise de sang, a prononcé le nom de Jésus onze fois, et est repartie.

Au laboratoire.

. Pilules d’hôpital – 2

Dopé, le patient a zappé cette pilule.

. Pilules d’hôpital – 3

Aux urgences, un médecin et trois ou quatre infirmières. Ils parlent de l’aide de 600 réaux accordée pendant la quarantaine. Le médecin étonné :

– Seulement pour ceux qui gagnent jusqu’à 28 000 par an. Les gars, qui survit avec 28 000 par an?

Silence des infirmières.

. Pilules d’hôpital – 4

Toujours le médecin et les infirmières. Quarantaine.

L’une des infirmières :

– Je ne sais pas ce qui est pire. Restez à la maison, comment ? Mon mari dit que le monde doit continuer à fonctionner, et qu’il y en a bien qui vont survivre. Il travaille en indépendant.

J’attends le docteur. Il dit :

– Je ne sais pas s’il a tort.

Un docteur.

. Pilules de l’hôpital – 5

Sur le chemin du retour, un chauffeur Uber :

– Hier, trois petits vieux que je connais sont morts. Aucun du corona. Je suis sûr qu’ils vont les mettre dans les statistiques.

Je reste silencieux, puis je réponds.

– J’ai des amis en Italie, en France. Croyez-moi, c’est grave et ça va empirer.

Il me regarde dans le rétroviseur. Son regard me dit clairement : « t’es dingue ».

. Pilules d’hôpital – 6

Un autre chauffeur Uber :

– J’ai travaillé dans les prothèses et le matériel chirurgical. Le médecin reçoit une commission pour chaque pièce, tout est surfacturé. Il y en avait un qui prenait 500 000 par mois, rien qu’avec mon laboratoire. Personne n’osait le défier, parce que s’il ne pouvait pas vous encadrer, il vous faisait virer.

. Pilules d’hôpital – 7

Le jour J du débarquement en Normandie, beaucoup sont morts pour libérer le monde, tandis que des gamins jouaient au ballon sur un terrain vague au Brésil.

Je viens de sortir d’une intervention chirurgicale. Je parle à l’infirmière, originaire du Sergipe, sérieuse mais sympathique, qui m’emmène dans ma chambre :

– Vous aller avoir au moins deux mois difficiles.

– C’est tout ?

Je trouve les prévisions basses, mais je ne dis rien.

Elle ajoute :

– Ce sera difficile pour ceux qui vont survivre.

– Avez-vous des amies contaminées?

– Plusieurs. Certaines en soins intensifs, d’autres ont été testées positif et sont en quarantaine. Beaucoup de médecins aussi. L’hôpital embauche dans le cadre d’un plan d’urgence.

Je pense aux nombreuses personnes encore aliénées qui n’ont pas compris ce qui est en train de se passer.

Le jour J de l’invasion de la Normandie, beaucoup sont morts pour libérer le monde, tandis que des gamins jouaient au ballon sur un terrain vague au Brésil.

Nous n’avons pas le droit d’être ces gamins.

. Pilules d’hôpital – 8

Le premier jour où vous vous rendez dans votre chambre, on vous autorise à porter votre T-shirt à l’effigie de Guernica et un short, après tout l’élégance compte.

Le deuxième, on ouvre votre tablier à l’arrière, vous en faites un charmant kimono.

Le troisième, tout le monde voit votre cul et vous vous en foutez.

. Pilules d’hôpital – 9

Le confinement et l’urgence causée par mon appendice m’ont saisi durant la meilleure phase physique de ma vie.

15% de masse graisseuse, la « tablette de chocolat » si socialement idolâtrée bien en place, comptant rester visible, même s’il ne s’agit pas d’un objectif ni d’un but en soi. Après tout, je ne dis ne pas non à une friandise après le déjeuner, ni à une bière ou du vin, au moins deux fois par mois.

Mais n’étant pas grand ni tout à fait crétin, pas assez fortuné pour m’offrir des Ferrari ou des restaurants, n’exerçant pas une profession aventureuse telle que surfeur ou parachutiste, et sachant que l’intelligence n’est pas exactement un élément de valeur aujourd’hui, un homme de 52 ans a besoin d’une attrait sexy pour rester sur le marché.

C’est avec un sentiment de propriétaire que je vois dans le miroir la possibilité que ma tablette de chocolat soit gommée, même si j’essaye de ne pas y accorder trop d’importance.

– « Si ça te dit, je pars deux semaines et je te récupère, cher abdomen. »

Puis un coronavirus fait son apparition, un confinement, et une appendicite.

Une semaine, vous montez 500 marches pour vous échauffer avant la salle de sport, la suivante vous allez par le monde comme un scaphandrier ivre qui va accoucher de trois ananas.

Le ventre énorme, rond et déformé, avec plusieurs marques d’incision qui laisseront des cicatrices.

Mon abdomen …

Rien n’est à nous. Ni la Ferrari ni les tablettes de chocolat.

Nous sommes juste un tas de molécules qu’on a refourguées.

. Pilules d’hôpital – 10

Alors que je me trouvais à bord d’un Uber pour la deuxième fois, souffrant déjà d’une appendicite aiguë, je me suis allongé sur le siège arrière de la voiture en levant les yeux.

Un après-midi glorieux, comme chaque jour depuis la quarantaine. Au-dessus, dans le ciel sans nuages, un minuscule vautour tournoyait.

Bien sûr, j’ai pensé à un dessin animé. Je lui ai dit :

– Je suis toujours vivant, le jeune vautour maladroit devient une charogne.

Dans le sud de São Paulo, cela fait trois semaines qu’il fait beau. Des maritacas matinales sillonnent le quartier. Le barrage de Guarapiranga doit être plein de hérons, canards et poulets d’Angola. Mes plantes dans l’arrière-cour poussent, les fougères ressemblent aux bimbos musclées de la salle de sport.

Ici à Jabaquara, où se trouve l’hôpital, le bruit des avions résonne quatre ou cinq fois par jour. La moyenne était d’un avion toutes les deux minutes.

J’écoute les oiseaux, qui auparavant fuyaient le quartier à cause des turbines, circulant dans la région.

La nature reste exubérante.

Un air plus pur, un ciel avec plus d’étoiles, des animaux plus paisibles, c’est presque un témoignage de mépris envers l’espèce humaine.

La nature ne dépend pas de nous. La nature n’a pas besoin de nous. Je dirais même que nous faisons déjà des heures supplémentaires.

Elle a envoyé un message évident :

– Vous n’êtes qu’une espèce comme une autre. Comme des milliers qui ont déjà existé et se sont répandues sur le globe. Vous êtes arrogants, ignorants, destructeurs et limités. Je vous élimine avec un virus créé en un claquement de doigt. Comprenez votre lieu de vie, respectez votre maison, révisez vos concepts.

Il est certain que nous n’apprendrons pas.

Nous sommes les vautours.

Et le vautour maladroit devient charogne.


. Pilules d’hôpital – 11

Trump et les États-Unis ont siphonné le marché mondial des équipements de lutte contre les coronavirus. Ils sont allés en Chine, ont fait l’offre la plus élevée, nettoyé le stock (y compris la commande à destination du Brésil, qui se retrouve le bec dans l’eau).

Mais ils ont payé aussi très cher pour le prendre à d’autres pays, y compris l’Allemagne.

Ils ont retiré le stock du monde.

C’était le gouvernement américain.

Pour le distribuer aux hôpitaux, pas vrai ?

Non.

Il existe six ou sept grandes sociétés de fournitures médicales aux États-Unis. Ils possèdent des camions et un système de distribution.

Le gouvernement va transmettre tout ce matériel confisqué au monde (l’Allemagne a taxé cela de piraterie moderne) à ces entreprises qui vont le VENDRE aux hôpitaux.

Je vais répéter : VENDRE.

Aux enchères, comme eBay.

L’hôpital qui offre le plus emporte la mise.

Et puis il adresse la note aux patients.

Les hôpitaux qui n’ont pas de fric n’ont pas de masque.

Le patient qui n’a pas de fric ne respire pas.

C’est du pur capitalisme, sans censure ni hypocrisie.

L’État injecte des millions et cède un marché monopolisé à des partenaires privés, de bonne grâce.

Il prend tout au monde entier et fait d’un atout vital un profit astronomique pour les géants du secteur, sans rien en retour.

Dans la pilule 10, j’ai dit que nous n’apprendrions pas.

Cela n’a pas pris trois minutes.

Ci-dessous le lien vers la conférence de presse du gouvernement américain expliquant tout cela comme si de rien n’était :

. Pilules d’hôpital – 12

A l’étage où je me trouve, toutes les chambres et les lits sont occupés.

C’est un secteur sans Covid.

On peut déambuler dans les couloirs, mais comme j’ai vécu deux admissions en une semaine, j’ai ordre de rester dans ma chambre. Je suis isolé dans l’isolement, très cher.

Je n’ai pu sortir que sur des brancards ou des chaises roulantes, pour les examens.

Je connais déjà un peu la structure de l’hôpital et je constate que l’itinéraire change chaque jour.

En raison du Covid, des secteurs sont restreints, des ascenseurs et des couloirs sont réservés à des publics spécifiques. Les itinéraires internes sont modifiés.

Ma chambre disposait d’un moniteur avant mon arrivée. On est déjà en train de le préparer pour le transférer aux soins intensifs.

Ce matin, la médecin, âgée de vingt-sept ans au plus, est venue me rendre visite. Ses collègues d’autres secteurs sont en train d’être recrutés.

J’ai demandé à en savoir plus sur la situation :

– Ce secteur du deuxième étage est désormais le seul de l’hôpital non utilisé pour le Covid.

– Alors … nous sommes le village d’Astérix.

Je ne pense pas qu’elle ait compris.

Ces dessinateurs sont fous.

. Pilules d’hôpital – 13

J’ai passé une partie de la journée connecté à une tige munie de roues. Des poches de sérum physiologique et de médicaments s’écoulaient lentement.

Comme je suis un équipement d’un certain âge, il est toujours acceptable d’être surveillé de façon analogique par des câbles et des fils. Un jour, il y aura du sérum physiologique Wi-Fi.

Je dois marcher dans la chambre, cela fait partie du processus de récupération. Il est parfois nécessaire de transporter mon partenaire à roues dans la pièce.

Aller et venir avec des virevoltes, comme une danse.

Et comme toute danse, il y a les partenaires avec qui cela fonctionne bien et celles qui gênent.

Je n’ai pas eu de chance, j’ai une roue coincée, elle n’avance pas bien en ligne droite, et tourne mal. Je ne m’attendais pas à un tango sensuel, mais je n’avais pas non plus besoin que ce soit une course d’obstacles.

L’alternative est d’en faire abstraction.

Téléphone portable, lecture, réflexion en tous genres pendant que je pousse automatiquement ma méchante partenaire.

Aujourd’hui, une infirmière est entrée dans la pièce. Elle m’a vu aller aux toilettes avec ma nouvelle petite amie.

– Où allez-vous, monsieur Custódio ?

– Aux toilettes.

– Et pourquoi y aller accompagné ?

Là, j’ai réalisé que j’avais passé ma matinée à pousser la tige, dépourvue de médicament. J’étais libre, déconnecté.

– Je ne m’étais pas rendu compte que j’étais célibataire.

Elle rit et montre les poches de médicament sur le plateau.

– Plus maintenant.

. Pilules d’hôpital – 14

Chaque fois qu’on mesure mon rythme cardiaque, je préviens : il est faible. Au repos et en position couchée, il atteint 52, 48 par minute. Il est important d’avoir cette référence en tête.
Je pense que le nom technique est « bradycardie ».

Chaque fois que j’en parle, les infirmières demandent « Vous étiez athlète? ».
Parfois, je dis que je suis juste avare, que j’économise des battements pour la fin.

À l’hôpital, cette scène se produit au moins trois fois par jour. Il vient toujours une infirmière différente, selon le planning.

Aujourd’hui, il en est venue une que je ne connaissais pas encore. Évangéliste, comme presque toutes. Je m’en suis rendu compte. Elle a pris mon rythme cardiaque et m’a posé la question :

– Bon. 53 battements. Vous étiez athlète ?

– Oui

– Quelle bénédiction. Tout comme Bolsonaro.

– …

– Monsieur Custódio, pourquoi êtes-vous monté à 96 ?


. Pilules d’hôpital – 15

Aujourd’hui, c’est mon dernier jour d’hospitalisation.
Ils ont décidé qu’à la fin de la journée, je pouvais rentrer chez moi.
Apparemment, je suis déjà capable de produire de l’eau par moi-même et de servir leur déjeuner aux plantes.

Ou quelque chose dans le genre.

Ce matin, j’ai trouvé le couloir un peu bruyant. Conversations et voix.
J’ai demandé à l’infirmière la raison de ce vacarme :

– Vos amis veulent quitter l’hôpital.

Le fait est que pratiquement deux couloirs de mon étage n’accueillent toujours pas de Covid. Le reste de l’hôpital se prépare à prendre en charge des malades dans tous les secteurs. Progressivement, ils renvoient les patients chez eux, agrandissent le front.
Il s’avère que beaucoup ne peuvent pas sortir. Il ont des examens, des opérations ou sont en convalescence.
La nouvelle selon laquelle nous sommes cernés a semé la panique.
De nombreux patients ont refusé de se soumettre à des examens fondamentaux, craignant que l’air, les murs et les personnes ne soient contaminés.
Comme l’a dit Dona Joélia, une dame du Maranhão qui fait le ménage chaque matin, « ces gaz qui émanent de Satan ».

Dona Joélia est drôle, toujours accompagnée d’un partenaire timide qui n’entre pas dans les chambres. Elles papotent, se disputent, rient. On dirait un duo d’une comédie américaine, le genre où la police recrute deux types sans aucune référence pour en faire des agents infiltrés. L’autre jour, elle a fait un tour sur elle-même en franchissant la porte. Elle m’a regardé et m’a dit :

– J’ai failli tomber. Le gant s’est pris dans la porte.

Elle n’a qu’une fille, qui fait radiologie et a dû interrompre son stage à cause des « gaz ».

– Quel âge avez-vous ?

– Cinquante ans.

– Je n’ai pas mes lunettes, Dona Joélia. Je ne peux pas dire si vous faites moins.

– Pas de lunettes, hein ? Mais tu as l’oeil, je le sais.

De tous ceux qui travaillent ici, ce sont peut-être les moins protégés qui partent d’ici à la nuit tombée, à bord de bus bondés, à destination d’un quartier lointain.

– Je rentre chez moi aujourd’hui, Dona Joélia. Pensez-vous que mes plantes sont encore vivantes ?

– Avec la grâce du Seigneur, elles ne souffrent pas de ces gaz.

Voilà.

Après cinq jours sans cuisiner ni prendre mes médicaments tout seul, je retrouve l’autonomie des adultes dans le monde réel.

Je pense que je sais déjà comment produire de l’eau par moi-même et servir leur déjeuner aux plantes.

Ou quelque chose dans le genre.

Crédits de la bannière : areta ekarafi on Visual Hunt / CC BY-NC-ND

O Brasileiro que conheço / Le Brésilien que je connais

Drapeau Brésil por Custódio Rosa

Sou como você. Conheço muitos Brasileiros.
No meu caso, alguns são artistas, outros trabalham com comunicação, boa parte destes é de “descolados”, gente que pensa o mundo de forma diferente.
Mas a maioria, talvez 90% que conheço, são o Brasileiro médio. Esse é o Brasileiro que conheço :
O Brasileiro que conheço não lê livro. No máximo, auto-ajuda ou algum motivacional.
O Brasileiro que conheço não entende de arte, na verdade despreza a arte e os artistas.
O Brasileiro que conheço sabe distinguir uma boa roupa, mas não consegue distinguir entre um produto artístico vagabundo e o que tem valor, e sempre consome o primeiro.
O Brasileiro que conheço despreza pensamentos filosóficos ou especulativos, não vê importância em nada que não seja “prático”.
O Brasileiro que conheço olha torto se alguém usa uma palavra com mais de três sílabas.
O Brasileiro que conheço não entende nada da história do próprio país. Não sabe dos golpes, das revoluções, das artimanhas que sempre se fez para garantir que o poder e os recursos não saiam de um grupo que sempre mandou nesses 500 anos.
O Brasileiro que eu conheço só admite que alguém suba de classe social se adotar o discurso da classe de cima. Caso contrário vai ser perseguido, acusado e isolado.
O Brasileiro que eu conheço não é a favor de greve. A não ser a dos caminhoneiros, porque os caminhoneiros como classe são retrógrados, e o brasileiro que conheço só aprova greve retrógrada.
O Brasileiro que eu conheço é afável pessoalmente e retrógrado politicamente.
O Brasileiro que conheço não se importa quantas pessoas morrem no trânsito, desde que ele possa andar a mais de 60km.
O Brasileiro que eu conheço está se lixando pra corrupção. Ele é alienado para qualquer escândalo que não seja de um partido político ou pessoa da esquerda. Todos os outros ele não liga.
O Brasileiro que eu conheço só acha imoral o pecado dos outros.
O Brasileiro que eu conheço só acha desonesta a desonestidade dos outros.
O Brasileiro que eu conheço nunca se acha culpado de nada.
O Brasileiro que conheço não se arrepende do crime, mas de ter sido flagrado. Ele justifica qualquer absurdo como « era só uma brincadeira ».
O Brasileiro que conheço não liga causas e consequências. Ele não vê relação entre as idiotices que faz e o que a natureza, a sociedade, a política, a economia e a própria vida manda de volta pra ele.
O Brasileiro que conheço acha que o filho dele de 34 é um garoto que precisa ser protegido, mas o do favelado aos 14 já pode ser criminalizado como adulto.
O Brasileiro que eu conheço corrompe alguém pro filho escapar do serviço militar, mas quer um governo militar pra acabar com a corrupção.
O Brasileiro que conheço é chantageado, ameaçado e escorchado dentro de uma delegacia pelo próprio delegado que lhe pede dinheiro, mas acha que Sergio Moro é um herói.
O Brasileiro que eu conheço tá se lixando pra Amazônia, pra floresta e proteção ambiental, pra tragédia de Mariana ou aquecimento global. Bicho bom pra ele é no churrasco, e mato tem mais que cobrir com porcelanato.
O Brasileiro que eu conheço é ogro, obtuso, não se importa com isso e tem até orgulho de ser assim.

O Brasileiro que conheço vai ser governado por um governo que é a cara dele.

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Drapeau France par Custódio Rosa

Je suis tout comme vous. Je connais beaucoup de Brésiliens.

Dans mon cas, certains sont des artistes, d’autres travaillent dans la communication, la plupart sont des gens « cools », qui pensent le monde différemment.

Mais la majorité, peut-être 90% de ceux que je connais, incarnent le Brésilien moyen. Voici le Brésilien que je connais :

Le Brésilien que je connais ne lit pas de livre. Ou seulement des bouquins sur la motivation et le développement personnel, au mieux.

Le Brésilien que je connais ne comprend rien à l’art, en fait, il le méprise, ainsi que les artistes.

Le Brésilien que je connais sait choisir de beaux vêtements, mais il ne sait pas faire la différence entre un produit culturel médiocre et un autre qualitatif, et il consomme toujours le premier.

Le Brésilien que je connais méprise les pensées philosophiques ou spéculatives, il ne prête aucune valeur à ce qui n’est pas « pratique ».

Le Brésilien que je connais regarde avec défiance celui qui emploie un mot de plus de trois syllabes.

Le Brésilien que je connais ne comprend rien à l’histoire de son propre pays. Il ne sait rien des coups d’Etat, des révolutions, des manipulations nécessaires pour que le pouvoir et les richesses n’échappent pas au groupe social qui dirige ce pays depuis 500 ans.

Le Brésilien que je connais admet qu’on gravisse l’échelle sociale que si on adopte le discours de la classe sociale supérieure. Sinon, on sera persécuté, stigmatisé et isolé.

Le Brésilien que je connais n’est pas en faveur de la grève. Sauf celle des chauffeurs routiers, parce que le groupement des camionneurs est rétrograde et que le Brésilien que je connais n’approuve que les grèves rétrogrades.

Le Brésilien que je connais est individuellement affable et politiquement rétrograde.

Le Brésilien que je connais ne se soucie pas du nombre de personnes qui meurent dans un accident de la route, tant qu’il peut rouler à plus de 60 km/h.

Le Brésilien que je connais se lave les mains de la corruption. Il est ne considère que les scandales concernant un parti politique et la gauche. Il se fout de tous les autres.

Le Brésilien ne trouve immoral que le péché des autres.

Le Brésilien ne trouve malhonnête que la malhonnêteté des autres. Le Brésilien que je connais n’est jamais coupable de rien.

Le Brésilien que je connais ne se repend que de s’être fait prendre. Il justifie l’absurde en disant que « c’était juste une blague ».

Le Brésilien que je connais ne relie pas les causes aux conséquences. Il ne voit aucune relation entre les idioties qu’il commet et la façon dont elles impactent la nature, la société, la politique, l’économie et sa propre vie.

Le Brésilien que je connais pense que son fils de 34 ans est un garçon à protéger, mais qu’un gamin de 14 ans issu d’une favela peut être criminalisé comme un adulte.

Le Brésilien que je connais graisse la patte pour que son fils n’effectue pas son service militaire, mais il souhaite qu’un gouvernement militaire mette fin à la corruption.

Le Brésilien que je connais est soumis au chantage, il est menacé et traqué à l’intérieur d’un commissariat par un officier qui lui demande de l’argent, mais il pense que Sergio Moro est un héros.

Le Brésilien que je connais se contrefout de l’Amazonie, de la protection de la forêt et de l’environnement, comme de la tragédie de Mariana ou du réchauffement climatique. A ses yeux, le truc sympa c’est le churrasco, et recouvrir la brousse de porcelaine.

Le Brésilien que je connais est un ogre, obtus, et s’en fiche, et en tire même de la fierté.

Je sais que le Brésilien que je connais a élu un gouvernement à son image.

Photo credit: tropical.pete on VisualHunt / CC BY-SA

L’humour au cœur de la tragédie: l’élection de l’extrême droite au Brésil via l’oeil de Custódio

Drapeau Brésil par Custódio Rosa

Voici quelques dessins qui, espérons-le, permettrons aux Français de comprendre l’incompréhensible. Afin, peut-être, d’éviter que la même chose se produise en France.

(Traduction des dessins – Baptiste Fillon)

 

07_camisa_forca

 

08_espelho_rdz

 

 

16_whatstruz_fr

 

18_nazismo_burro

 

24_barbaros

 

merde

 

23_sapiens

 

 

24_whats_gado

 

 

25_nova_realidade

 

29_bolso_estupro

 

27_caminhos

 

Être ou ne pas être Nutella / Ser ou não ser Nutella

Drapeau France par Baptiste Fillon

C’est une expression que j’aimerais voir passer en français. Au Brésil, quelqu’un est « Nutella » quand il est surprotégé, loin de la réalité, déconnecté. De la douceur niaise et médiocre, à tartiner.

L’expression désigne souvent la classe moyenne, aimant la vie comme on la présente dans les supermarchés. On l’emploie aussi pour évoquer des clubs de foot, des séries télévisées, les clubs de vacances, des best-sellers, et j’en passe. Elle caractérise des rêves cotonneux, aseptisés, reproduisant les clichés hors-sol que déversent la télévision, la pensée massifiée, les starlettes à la petite semaine, ainsi que la bêtise et l’égocentrisme de chacun. Le Nutella, ce sont des émanations sans âme, désincarnées, vêtus des illusions dont les parent les campagnes de publicité.

En France, nous n’avons pas d’expression équivalente. Il y a « Disneyland », quand on parle d’un endroit sans substance, un « Mc Job », pour un boulot sans intérêt, et mal payé, ou les « Footix », les types qui ne supportent que les équipes de football les plus fortes.

C’est dommage, car l’expression est claire : grasse, sucrée, dédiée à une douceur factice, imbécile. A l’image de notre civilisation, perfusée d’une niaiserie vulgaire, confortée. Lorsqu’elle se sent menacée, cette population Nutella est prête à tout céder à celui qui se présente comme son « sauveur », même son honneur et sa liberté. Après tout, que ne ferait-on pas pour conserver son barbecue et son canapé en cuir ?

Drapeau Brésil por Baptiste Fillon

Esta é uma expressão que gostaria de ver em francês. No Brasil, alguém é « Nutella » quando está superprotegido, longe da realidade, desconectado. Doce e medíocre doçura, para espalhar.

O termo geralmente se refere à classe média, amando a vida como é nos supermercados. Também é usado para evocar clubes de futebol, séries de televisão, clubes de férias, best-sellers e assim por diante. É caracterizada por sonhos higienizados, reproduzindo os planos artificiais que transmite a TV, o pensamento massificado, as starlettes medíocres, e a estupidez e egocentrismo de cada um. As Nutella são emanações sem alma, desencarnadas, vestidas de ilusões pelas campanhas publicitárias.

Na França, não temos uma expressão equivalente. Há « Disneyland », quando se fala de um lugar sem substância, um « Mc Job », para um trabalho sem juros e mal remunerado, ou o « Footix », a gente que só apoia os times de futebol mais fortes.

É uma pena, porque a expressão é clara: gorda, doce, dedicada a uma doçura fictícia, imbecil. Na imagem de nossa civilização, infundida com um absurdo vulgar, confortada. Quando se sente ameaçada, esta população de Nutella está pronta para dar tudo àquele que se apresenta como seu « salvador », até mesmo sua honra e sua liberdade. Afinal, o que você não faria para manter seu sofá de couro e churrasco?

Photo on VisualHunt.com

« On est le champions » / « Somos os campeões »

Drapeau France par Baptiste Fillon

Un nul, une victoire. Cette semaine, la France a retrouvé SES Bleus, auréolés de leur deuxième étoile.

Cette étoile n’a pas le goût de celle de 1998, mais elle fait de la France une grande nation du football.

C’est bien.

Comme en 1998, une vague d’allégresse a envahi le pays. Le football a offert le prétexte à un déluge de commentaires « passionnés » sur l’éducation, l’économie, la vie, la mort, l’amour et… le football.

En fait, après une Coupe du monde victorieuse, le vrai sport consiste a se protéger du déversement de platitudes et de bêtises auto-satisfaites que ce succès entraîne. Pendant 4 ans…

L’une de ces perles d’outrance a attiré mon attention.

Dans le feu du succès, une belle âme pestait contre la tradition française reléguant l’activité physique derrière l’activité intellectuelle. Elle plaidait pour que le sport, le football en tête, soit considéré à l’égal de la littérature, des langues, de la philosophie, etc….

Elle disait cela avec fougue et indignation, comme si elle portait l’étendard d’une cause opprimée.

Le problème, c’est que le sport supplante déjà la culture.

Prenons ce qui fait aujourd’hui l’aune de toute valeur : l’argent. Et concentrons-nous sur le football (il incarne parfaitement le phénomène et c’est surtout le sport que je connais le mieux).

Une seule comparaison. Pour toute une carrière, un Prix Nobel de littérature touche 900 000 euros. Au PSG, Neymar touche un salaire mensuel de 3 millions d’euros, hors taxe.

Tout est dit.

Je pourrais trouver des milliers d’exemples.

Mais plus que la victoire symbolique et financière du sport-business sur les disciplines de l’esprit, le raisonnement simpliste de cette belle âme illustre la relation que les Français – notamment ses « élites » intellectuelles – entretiennent avec le sport, et notamment football. Ils oscillent entre mépris et une fascination béate, virant parfois au chauvinisme (quand l’équipe de France remporte un titre majeur, ou qu’un de nos clubs est capable de mettre 3-0 au Bayern Munich).

En France, le sport reste assez ésotérique. Là encore, le cas du football est emblématique. Pour faire court, il est vu comme une passion d’analphabète, qui délègue sa cervelle de poisson rouge à ses dix coéquipiers (quand il joue), ou bien aux milliers de supporters qui encouragent le même clubs que lui (quand il est en tribune ou regarde un match, avachi dans son canapé).

Et c’est inscrit dans nos villes, nos moeurs.

A Paris, les terrains de sports collectifs se trouvent relégués à la périphérie de la ville, ou en banlieue.

Nous sommes champions du monde, mais nous ne remplirons jamais des stades de 30 000 places pour un match de 3e division, comme en Angleterre. Et cela ne changera pas.

Nous aimons le football, comme si cela ne se faisait pas. Cela nous rend maladroits à son égard, surtout quand nous avons la chance d’y briller. Comme des amoureux qui ne savent pas se déclarer. Et qui se ridiculisent quand ils le font.

Nous avouons volontiers notre goût pour le sport quand il sert notre intégration dans un groupe social que nous jugeons valorisant, ou quand il permet de promouvoir nos performances personnelles, sur le grand marché de l’égo. Le succès du running est un bon exemple de ce phénomène.

A ce propos, vous savez que je cours plus de cinq kilomètres en trente minutes ?

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Drapeau Brésil por Baptiste Fillon

Um empate, uma vitória. Esta semana, a França encontrou SEUS Bleus, com sua segunda estrela.

Esta estrela não tem o sabor de 1998, mas faz da França uma grande nação do futebol.

Isso é bom

Como em 1998, uma onda de alegria invadiu o país. O futebol tem sido o pretexto para uma enxurrada de comentários « apaixonados » sobre educação, economia, vida, morte, amor e … futebol.

De fato, depois de uma Copa do Mundo vitoriosa, o esporte real é se proteger do despejo de chavões e tolices auto-satisfatórias que esse sucesso acarreta. Por 4 anos …

Uma daquelas pérolas de excesso atraiu minha atenção.

No calor do sucesso, uma bela alma protestou contra a tradição francesa de relegar a atividade física abaixo da atividade intelectual. Ela argumentou que esporte, futebol em particular, deveria ser considerado igual a literatura, idiomas, filosofia, etc.

Ela disse isso com ardor e indignação, como se carregasse o padrão de uma causa oprimida.

O problema é que o esporte já está suplantando a cultura.

Tome o que hoje é o critério de todo valor: dinheiro. E vamos nos concentrar no futebol (isso encarna perfeitamente o fenômeno e é especialmente o esporte que eu conheço melhor).

Apenas uma comparação. Para uma carreira, um prêmio Nobel de literatura é de 900.000 euros. No PSG, Neymar recebe um salário mensal de 3 milhões de euros, excluindo impostos.

E tudo está dito.

Eu poderia encontrar milhares de exemplos.

Mas mais do que a vitória simbólica e financeira do negócio esportivo sobre as disciplinas da mente, o raciocínio simplista dessa bela alma ilustra a relação que os franceses – especialmente suas « elites » intelectuais – têm com o esporte, e em particular o futebol. Eles oscilam entre o desprezo e uma fascinação feliz, às vezes se voltando para o chauvinismo (quando o time da França ganha um título importante, ou um dos nossos clubes é capaz de colocar 3-0 no Bayern de Munique).

Na França, o esporte continua bastante esotérico. Aqui, novamente, o caso do futebol é emblemático. Em suma, ele é visto como uma paixão de analfabeto, que delega seu cérebro de peixe dourado a seus dez companheiros de equipe (quando é jogador), ou aos milhares de torcedores que aplaudem os mesmos clubes que ele (quando ele está em tribuna ou assistir a um jogo, esticado em seu sofá).

E está inscrito em nossas cidades, nossos costumes.

Em Paris, campos esportivos coletivos são relegados à periferia da cidade ou nos subúrbios.

Somos campeões mundiais, mas nunca iremos completar estádios de 30.000 lugares para um jogo da 3ª divisão, como na Inglaterra. E isso não vai mudar.

Nós amamos o futebol, como se isso não estivesse correto. Isso nos torna desajeitados, especialmente quando temos a chance de brilhar. Como amantes que não sabem se declarar. E quem se ridiculariza quando eles fazem isso.

Admitimos prontamente nosso gosto pelo esporte quando ele serve à nossa inserção em um grupo social que consideramos importante, ou quando promove nosso desempenho pessoal, no grande mercado do ego. O sucesso da corrida de rua é um bom exemplo desse fenômeno.

A propósito, você sabe que eu corro mais de cinco quilômetros em trinta minutos?

Photo credit: Pascal le Cheval on Visualhunt.com / CC BY

« Amore e Capoeira « … mais pas plus / « Amore e Capoeira »… Mas não mais

Drapeau France par Baptiste Fillon

Un grand morceau de musique de supermarché, qui nous vient d’Italie, visiblement.

Pour les clichés brésiliens, tout y est : sexe, soleil, cachaça, football, etc…

La chorégraphie vaut aussi le détour.

Ne manque que le bon goût. N’allons pas jusqu’à dire l’élégance.

Les artistes ont aussi réussi à mettre le Palmeiras à Rio de Janeiro. Ce qui a fait sourire Custódio, vert dans l’âme.

Vive l’amour entre les peuples. Mais surtout l’amour tout court (Comme dit la chanson : « Flex, time to have sex »)

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Drapeau Brésil por Baptiste Fillon

Uma grande música de supermercado, que vem da Itália, obviamente.

Os clichês brasileiros, todos estão lá: sexo, sol, cachaça, futebol, etc …

A coreografia também vale a pena ver.

Só falta o bom gosto. Não vou tão longe a ponto de dizer elegância.

Os artistas também conseguiram colocar o Palmeiras no Rio de Janeiro. O que fez Custódio dar risada, verde na alma.

Viva o amor entre os povos. Mas acima de tudo, viva o amor (como diz a música: « Flex, time to have sex »)

Titeuf: um menino francês decidindo o futuro do Brasil / Titeuf: un gamin français décide de l’avenir du Brésil

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Drapeau Brésil por Custódio Rosa

A ignorância é uma besta de difícil combate porque ela se fortalece comendo os próprios excrementos.

Esta semana virou assunto corrente no Brasil o candidato da extrema-direita, ex-militar e segundo colocado nas pesquisas para presidente, ter levado ao telejornal de maior audiência do Pais (aqui um único telejornal é fonte de informação da população, pois tem 40 a 50% de audiência do horário) um livro, que ele classificou como sendo “kit gay”.

Este livro « seria distribuído nas escolas” não fosse a corajosa e oportuna mobilização da melhor parte de nossa sociedade, capitaneada por ele e seus amigos.

O livro em questão é de um personagem francês chamado Titeuf.

O autor é um famoso cartunista francês chamado Zep. Seu nome, na verdade é Phillipe Chappuis, tem 51 anos, e publica álbuns do Titeuf desde 1992, tendo vendido mais de 20 milhões de exemplares em 25 países desde então.

E quem seria Titeuf?

Um menino, pré-adolescente, naquela idade confusa de quem saiu da inocência da infância e tenta compreender o mundo.

E nessa compreensão, caminha entre o nojo e atração sobre… o sexo!

Nojo, porque, obviamente, você grudar sua boca, enfiando sua língua úmida e requebrante feito uma enguia, goela a baixo da outra pessoa, trocando salivas e gemidos é algo absolutamente nojento.
Se você não entende esse nojo, é porque nunca foi um menino de 10 anos.
Atração porque, oras bolas… você é um menino de 10 anos!

Os álbuns do Titeuf são escritos para adultos, com seu humor peculiar, ao mesmo tempo cru e ingênuo, mas muito mais direcionados para garotos.

Porque ali estão as coisas que eles pensam, e o livro se coloca ao lado deles para que os ajude a compreender as coisas, principalmente dizendo: “ei, cara, você não está sozinho. Isso tudo é mesmo muito estranho”.
Mas estamos na França.

Voltemos ao Brasil.
Um lugar onde ter conhecimento é “desnecessário”, onde pesquisar minimanente qualquer coisa é “perda de tempo”, onde uma gafe do tamanho de 50% da audiência do pais é irrelevante, onde quem vem alertar trazendo uma informação correta é um cara “chato pra cacete”.

Aliás, foi informado pelo Ministério da Educação que este livro nunca fez parte de distribuição em escolas. Já o Ministério da Cultura comprou uma quantidade para distribuir em bibliotecas, dentro do espectro de livros que abordam sexualidade para adolescentes. Biblioteca não é escola, e o livro está presente -e acessível- para pré-adolescentes de 25 países.

O candidato saberia que estava falando de um personagem de sucesso internacional? Era ignorância ou apenas uma “fake news” para solidificar seu papel de herói dos bons costumes diante da população?

Impossível saber.

Mas a besta segue se fortalecendo, e, visto a quantidade de excremento que anda produzindo, está longe de parar de crescer.

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Drapeau France par Custódio Rosa

L’ignorance est une bestiole difficile à combattre, parce qu’elle se renforce en se nourrissant de ses propres excréments.

Ancien militaire, placé à la deuxième place dans la course à la présidence par les sondages, le candidat d’extrême droite a fait sensation au Brésil, cette semaine, en brandissant lors du journal télévisé le plus regardé du pays (ici, un seul et même journal télévisé est la source d’information de toute la population, puisqu’il réalise entre 40 et 50% d’audience sur le créneau horaire) un livre, qu’il a qualifié de « kit gay ».

Cet ouvrage « serait distribué dans les écoles » sans la mobilisation courageuse et opportune de la meilleure partie de notre société, dirigée par lui et ses amis.

Le livre en question concerne un personnage français, appelé Titeuf.

Son auteur est un célèbre caricaturiste français, nommé Zep. Philippe Chappuis de son véritable nom. Agé de 51 ans, il publie des albums de Titeuf depuis 1992, et en a vendus plus de 20 millions d’exemplaires dans 25 pays.

Mais qui est donc ce Titeuf?

Un gamin, pré-adolescent, traversant cet âge confus de qui a quitté l’innocence de l’enfance et tente de comprendre le monde.

Et dans cette tentative de compréhension, il oscille entre le dégoût et l’attraction pour… le sexe!

Dégoût, parce que, évidemment, c’est absolument dégoutant de coller votre bouche, fourrer votre langue humide et ondulante comme une anguille, dans la gorge d’une autre personne, et d’échangez votre salive et des gémissements avec elle.
Si vous ne comprenez pas ce dégoût, c’est que vous n’avez jamais été un gamin de 10 ans.
Attraction parce que, nom de Dieu… vous êtes un gamin de 10 ans!

Avec leur humour décalé, à la fois brut et naïf, les albums de Titeuf sont écrits pour des adultes,  mais aussi et surtout destinés aux garçons.

Parce que ce sont des choses qui occupent leur esprit, et le livre se tient à leurs côtés pour les aider à les comprendre, disant notamment : «Hé, mec, tu n’es pas tout seul. Tout ça est carrément chelou.  »
Mais nous sommes en France.

Retournons au Brésil.
Un endroit où le savoir est « inutile », où chercher à se renseigner un tant soit peu est vu comme une  « perte de temps », où une gaffe embrassant 50% de l’audience du pays passe sans faire de vagues, où celui qui veut mobiliser en apportant une information correcte est un type ‘tellement ennuyeux ».

Incidemment, le Ministère de l’éducation a informé que ce livre n’avait jamais été distribué dans les écoles. Le Ministère de la Culture en a acheté pour les distribuer dans les bibliothèques, dans la masse des livres traitant de la sexualité à destination des adolescents. La bibliothèque n’est pas une école et le livre est disponible – et accessible – pour les pré-adolescents de 25 pays.

Le candidat savait-il qu’il parlait d’un personnage internationalement connu ? Était-ce de l’ignorance ou juste une « fake news  » pour consolider son statut de héros des bonnes moeurs face la population ?

Impossible à savoir.

Mais la bestiole continue de se renforcer et, vu la quantité d’excréments qu’elle produit, elle n’est pas prête de cesser de grandir.

Mulheres italianas / Femmes italiennes

Drapeau Brésil por Custódio Rosa

Caminho pelas ruas italianas.
Todos estrangeiros que conheço, inclusive mulheres, falam do jeito da brasileira andar.
Existe toda uma engenharia ancestral, provavelmente vinda da África (índios brasileiros não têm lá aquela ginga toda) onde a dança é uma linguagem social e as mulheres sempre carregaram grandes e pesados objetos equilibrados na cabeça, exigindo sutis movimentos de quadril para manter o balanço e a harmonia do conjunto enquanto caminham em chão de terra e pedras. Como na música… “lata d’agua na cabeça, lá vem maria…”. É uma mágica.

Aqui vejo as Italianas andando, indo e vindo do trabalho ou olhando lojas e galerias.
São lindas, mas pouco sorridentes, não te olham nos olhos.
Seguem em frente, decididas.

Se as brasileiras caminham como africanas que sabem dançar, as italianas, seja de tênis ou salto alto, caminham em passos largos, num andar rápido e firme, como soldados romanos enviados por César para combater sozinhas um exército de bárbaros em um território qualquer.

E digo uma coisa: eu acho que elas vão vencer.

 

Drapeau France par Custódio Rosa

Je marche dans les rues italiennes.
Tous les étrangers que je connais, y compris les femmes, évoquent la démarche des Brésiliennes.
Il existe toute une technique ancestrale, probablement africaine (Les Indiens du Brésil n’ont pas du tout cette façon de se balancer) où la danse est un langage social et les femmes portaient toujours de grands et lourds objets en équilibre sur la tête, ce qui nécessite des mouvements de hanches subtils pour maintenir l’équilibre et l’harmonie de l’ensemble, tandis qu’elles marchent sur la terre et les pierres. Comme dans la musique … “lata d’agua na cabeça, lá vem maria…” C’est magique.

Ici, je vois les Italiennes qui marchent, vont et viennent du travail, ou regardent les magasins et les galeries.
Elles sont belles mais peu souriantes, et ne te regardent pas dans les yeux.
Elles filent, déterminées.

Si les Brésiliennes marchent comme des Africaines qui savent danser, les Italiennes, en baskets comme en talons aiguilles, font de longues enjambées, dans une démarche rapide et ferme, comme des soldats romains envoyés par César combattre toutes seules une armée de barbares, sur un territoire donné.

Et je dis une chose: je pense qu’elles vont gagner.

Photo credit: Andreauuu on Visualhunt / CC BY-ND

Fascinant « raisonnable » / Fascinante « raisonnable » (razoável)

Drapeau France par Baptiste Fillon

Raisonnable est un mot fascinant. En français, je le trouve un peu long, et flasque. Mais c’est son inconsistance qui le rend intéressant. Il permet de signifier à l’autre sa bêtise, ou bien à exprimer votre désaccord. Ce qui revient à la même chose, en France. Je trouve qu’il incarne bien l’aversion au risque des Français, le goût d’une politesse qui n’en a que le nom, et le conservatisme national.

– Monsieur, soyez raisonnable

Cette phrase peut s’adresser à un cadre en costume lâchant une remarque sèche lors d’une réunion ennuyeuse comme la pluie, à un écrivain utilisant trop d’adjectifs, à un peintre utilisant trop de jaune, ou à un ivrogne urinant en public.

Celui ou celle qu’il vise est jeté de l’autre côté d’une barrière que vous avez vous-même placée, au moyen d’un faisceau de lois non écrites, que vous seuls connaissez, et que votre cible a le tort d’ignorer. La barrière et les lois ne sont peut-être que des illusions. Mais c’est la posture qui compte. Un combat sans coups. 

Et elle fonctionne encore mieux quand vous avez le pedigree pour l’assumer. Vous sortirez immanquablement vainqueur de la lutte. Si vous êtes le fils d’un Préfet de Police,  dirigeant dans un Groupe du CAC 40, issu de la noblesse d’Empire, vous êtes raisonnable. Un peu moins si votre mère est caissière de supermarché.

Raisonnable va du côté de la force, de la raison d’Etat, d’un bon sens intéressé à la perpétuation des intérêts en place.

Cet adjectif incarne d’un certain esprit français, faisant de ce pays une nation conservatrice, oligarchique, sachant manier avec passion la rhétorique révolutionnaire pour favoriser le statu quo.

Il place les limites, sans force, mais avec fermeté, par l’humiliation, et de façon définitive. Oui, même au pays des Droits de l’homme, on ne mélange pas les torchons et les serviettes… Encore une expression intéressante, mais ce sera pour une autre fois. Mon post est déjà bien assez long, ce ne serait pas raisonnable…

 

Drapeau Brésil por Baptiste Fillon

Raisonnable é uma palavra fascinante. Em francês, acho um pouco longa e flácida. Mas é sua inconsistência que a torna interessante. Ela permite que você aponte a estupidez do outro ou expresse sua discordância. O que equivale à mesma coisa, na França. Eu acho que isso incorpora a aversão ao risco dos Franceses, o gosto por uma polidez que é apenas um nome para o conservadorismo nacional.

– Monsieur, soyez raisonnable.

Senhor, seja razoável. Essa sentença pode ser endereçada a um executivo de terno que soltou uma observação seca em uma reunião chata como a chuva, um escritor usando muitos adjetivos, um pintor usando muito amarelo ou um bêbado urinando em público.

Aquilo que o outro está mirando é jogado para o outro lado de um muro que você mesmo construiu, por meio de um conjunto de leis não escritas, que só você sabe, e que ele vai ignorantemente errar. A barreira e as leis podem ser ilusões. Mas é a postura que conta. Uma luta sem golpes.

E funciona ainda melhor quando você tem o pedigree para assumir isso. Você inevitavelmente vencerá a luta. Se você é filho de um policial, líder de um grupo CAC 40*, da nobreza do Império, você é raisonnable. Um pouco menos se sua mãe é uma caixa de supermercado.

Raisonnable vai do lado da força, da razão de estado, um bom senso interessado na perpetuação dos interesses no mesmo lugar.

Este adjetivo incorpora um certo espírito francês, fazendo deste país uma nação conservadora e oligárquica, sabendo lidar com a retórica revolucionária com paixão para favorecer o status quo.

Ele coloca os limites, sem força, mas com firmeza, por humilhação e definitivamente. Sim, mesmo na Terra dos Direitos Humanos, on ne mélange pas les torchons et les serviettes (não misturamos toalhas e guardanapos) … Outra expressão interessante, mas será para outra ocasião. Meu post já é longo o suficiente, não seria raisonnable

*Índice da Bolsa de Valores Francesa.

Le goût de l’hiver / O gosto do inverno

Drapeau France par Baptiste Fillon

C’est un dessin publié dans une revue brésilienne qui m’a fait songer à cet article. Bula, si mes souvenirs sont bons. Je ne suis pas parvenu à le retrouver. Il contenait deux vignettes. L’une d’elles montrait une femme accablée par la chaleur de l’été. L’autre la montrait en hiver, chaudement et confortablement vêtue, se trouvant très élégante. Bref, l’hiver valait mieux que l’été.

Ce dessin a fait écho à une impression personnelle, ressentie dans les rues de São Paulo, alors que je parcourais le quartier aisé d’Ibirapuera, en août, durant l’hiver austral. Il devait faire 25 degrés à l’ombre. Je portais un tee-shirt, tandis que beaucoup de Paulistanos étaient vêtus des pulls et des manteaux. J’ai trouvé cela étrange, dans un pays où la température monte parfois à 30 degrés en hiver, même à São Paulo, située dans une région considérée comme tempérée, selon les critères sud-américains (soyons clairs, selon les critères climatiques français, l’hiver brésilien n’existe pas. Ou seulement parce que le soleil se couche plus tôt). Sans compter que cela cassait mes clichés sur le Brésil. Oui, cela me décevait même un peu, comme une promesse non tenue.

Cela dit, je veux bien concevoir que nous n’avons pas la même sensibilité au froid, selon l’endroit de la planète où nous avons grandi. Mais il y a des constantes biologiques : le corps humain transpire à partir d’une température de 24 degrés.

Je pense donc que les Paulistanos enveloppés dans la laine et le cuir devaient vivre une torture.

Je n’ai compris la raison de leur accoutrement qu’au bout de quelques jours, après avoir passé du temps dans les transports en commun, les bus notamment. Souvent, les passagers avaient la peau plus sombre, et leurs vêtements étaient plus légers : un tee-shirt ou une chemisette, sous un petit pull ou un gilet, pour se prémunir du froid du matin.

A ma grande surprise, j’ai découvert que ce goût de l’hiver était un signe de distinction sociale. Comme quoi, le snobisme vestimentaire a parfois du bon :  il sert à briser les clichés…

 

Drapeau Brésil por Baptiste Fillon

Em um cartum publicado numa revista brasileira que me deu a ideia deste post. Bula, se minhas lembranças são boas. Eu não consegui encontrá-lo de novo. Continha dois quadrinhos. Um deles mostrava uma mulher oprimida pelo calor do verão. A outra mostrava-a no inverno, vestida de maneira calorosa e confortável, sendo muito elegante. Em suma, o inverno era melhor que o verão.

Esse desenho ecoou uma impressão pessoal, sentida nas ruas de São Paulo, quando viajei pelo afluente bairro do Ibirapuera, em agosto, durante o inverno austral. Tinha que ser 25 graus na sombra. Eu usava uma camiseta, enquanto muitos paulistanos vestiam blusas e casacos. Achei isso estranho, em um país onde a temperatura às vezes sobe para 30 graus no inverno, mesmo em São Paulo, localizada em uma região considerada temperada, segundo os critérios sul-americanos (vamos ficar claros, segundo os critérios climáticos franceses, o inverno brasileiro não existe, ou existe só porque o sol se põe mais cedo). Sem mencionar que isso quebrou meus clichês sobre o Brasil. Sim, isso me desapontou um pouco, como uma promessa quebrada.

Dito isso, entendo que não temos a mesma sensibilidade ao frio, dependendo de onde no planeta crescemos. Mas há constantes biológicas: o corpo humano secreta a transpiração de uma temperatura de 24 graus.

Então eu acho que os Paulistanos envoltos em lã e couro tiveram que viver uma tortura.

Eu só entendi a razão para o esse vestuário depois de alguns dias, quando passei mais  tempo no transporte público, incluindo ônibus. Muitas vezes, os passageiros tinham a pele mais escura, e suas roupas eram mais leves: uma camiseta, sob um suéter ou colete, para se proteger do frio da manhã.

Para minha surpresa, descobri que esse gosto de inverno era um sinal de distinção social. O vestido esnobe às vezes tem algo de bom: serve para quebrar os clichês…

Photo credit: Julio Chrisostomo on VisualHunt.com / CC BY